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    • A língua portuguesa como elemento identitário.

      Dezembro 13th, 2022

      Foi um post que levantou a questão: isto está escrito em português do Brasil. O verbo espoletar que espoletou a reflexão sobre os termos que pertencem à língua portuguesa e por ser corrente noutras latitudes parece deixar de fazer parte do vernáculo. A língua formal e o dialeto. Existe limite entre ambos, algo estabelecido pelos académicos da linguística, ou este limite é tão permeável quanto é a própria formação da língua assente na sua identidade idiossincrática?

      As Grandes Navegações proporcionaram a extensão de Portugal enquanto área de dominação em territórios longínquos até onde a audácia, os conhecimentos técnicos e Espanha permitiam. Como resultado, a língua foi o elemento utilizado qual uma bandeira que quando fixada num território, passa por sua vez a fazer parte dele porque a linguagem leva a construção da identidade de quem a utiliza.

      No Brasil, nos primeiros anos de colonização, as línguas indígenas eram faladas inclusive pelos colonos portugueses, que adotaram um idioma misto baseado na língua tupi, chamado nheengatu. Por ser falada por quase todos os habitantes ficou conhecida como língua geral. Todavia, no século XVIII, a língua portuguesa tornou-se o idioma oficial, o que culminou no quase desaparecimento daquela língua comum. O crescimento populacional e a diáspora dos brasileiros levaram a que hoje a língua portuguesa seja a 5ª mais falada no mundo o que proporciona não só uma maior expansão cultural de tudo a que a ela é afeito, mas também e inegavelmente da economia. É facto que se espalha e se estende por toda a parte: Moçambique, Angola, Cabo Verde, Guiné Equatorial, Guiné-Bissau e São Tomé e Príncipe. Além disso, por razões históricas ou migratórias, falantes do português, ou de crioulo português, são encontrados também no Japão, Macau, Timor-Leste, Damão e Diu e no estado de Goa, Malaca, em enclaves na ilha das Flores na Indonésia, Baticaloa no Sri Lanka e nas ilhas ABC no Caribe. Portugal, foi a primeira aldeia global e esta vontade e capacidade de expansão e de alguma forma, apropriação do meio onde lhe era permitido ter agência foi o que fundou a lusofonia.

      Mia Couto considera a língua portuguesa como uma das línguas europeias com maior vivacidade, com maior dinamismo. “Não por causa de nenhuma essência especial do português, mas por causa de uma razão histórica que aconteceu ao Brasil, em que, digamos, Portugal deu origem a um filho maior que o próprio pai”. Ao ser adotada em África, fosse pela imposição ou pela aceitação, a língua portuguesa ganhou ainda mais tonalidade e outra musicalidade que a enriqueceram como um modo de incorporar e traduzir culturas que não lhe pertenciam originalmente.

      Assim, língua e cultura constituem dois elementos essenciais na atribuição de sentido aos objetos e fenómenos que nos cercam permitindo a formação da nossa identidade que, quando elaborada em sociedade, permite um reconhecimento do eu, fomentando a sua formação, sem que isto precise de estar atrelado aos limites da gramática formal. Afinal, a linguagem é viva e evolui na comunicação verbal e iconográfica num movimento contínuo através das relações sociais e sem essa evolução ainda hoje estaríamos a falar latim.

      No caso do Brasil em particular, cuja nacionalidade representa a maior comunidade de falantes do idioma português, a formação do seu léxico contou com vastas levas de povos de outras culturas, especialmente de origem europeia e que de tão diferentes que eram, muitos fugidos de conflitos onde os seus países eram inimigos, acabaram por criar um acordo onde a língua foi o instrumento comum escolhido ainda que fossem introduzidos termos e expressões adaptadas nas suas diferentes regiões e que hoje, fazem parte da língua portuguesa. O português foi o fio identitário comum que acolheu a diversidade e permitiu que aqueles a quem a língua era estranha, pudessem se encontrar nela resignificando a sua própria identidade através da incorporação dos seu valor linguístico-cultural.

      Não existe identidade desvinculada do idioma, sendo o conceito da formação daquela compreendido apenas quando se entende este processo simbiótico. Curiosamente, ao mesmo tempo que temos sempre a necessidade de pertencer a alguma coisa, parece que a liberdade plena é não pertencer a coisa alguma. E no caso dos falantes de português, esta liberdade está embutida na musicalidade dos sotaques, na utilização de termos regionais que não deixam de fazer parte da língua pela sua peculiaridade, pelo contrário enriquecem-na. É da agregação e aceitação destes elementos tão diversos que constituem a pluralidade da expressão através da última flor do Lácio que a identidade lusófona foi e continua a ser forjada. A língua é a expressão maior do resultado da agregação das diferenças dos seus falantes que permitem-na a ela também ter a sua própria identidade.

      Desta forma, é válido pensar se esta busca da personalidade própria e dos movimentos que ela gera não terá na sua génese este fluxo de trocas, incorporação, perdas e encontros tornando-se permeável ao outro e forjando a constituição do seu todo através da transposição de fronteiras, culturas e mentalidades. Língua e identidade tornam-se unas e permitem um reconhecimento mútuo dos seus significantes onde quer que se esteja gerando um sentimento de pertença dentro do exercício da liberdade da expressão do seu dialeto que tem o idioma português como tronco comum.

      Saramago dizia que que não há uma língua portuguesa, há línguas em português. Mas isso não tira nada a evidência de que se trata do corpo da língua portuguesa. É um corpo espalhado pelo mundo.

      A língua portuguesa será sempre a mesma não importa onde ou como é falada. Ela é plástica, criativa, generosa porque assim a faz quem a fala e com ela se identifica reificando a sua origem, a sua história, expansão e evolução permanente.

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    • Como a estrutura da narrativa dos contos folclóricos e dos mitos se repetem no cinema.

      Dezembro 13th, 2022

      Gnärus.

      É no sânscrito que encontramos esta palavra que deu origem ao termo narrativa. Saber, ter conhecimento de algo e narrar, relatar. A narrativa diz respeito à apropriação do mundo à nossa volta e a forma como o ser humano o organiza dentro do seu sentido próprio.

      Desde Aristóteles as histórias passaram a ser contadas em 3 conhecidos atos: princípio, meio e fim. é entre cada um destes grandes eventos que encontramos a estrutura das histórias que ouvimos, lemos ou vemos. E é desta última que vamos aqui falar através dos modelos narrativos que levaram à construção das histórias que hoje assistimos no cinema.

      Em 1928, Vladimir Propp lança o seu livro “A morfologia do conto” onde, através de uma análise estrutural dos contos populares russos, concluiu que existiam 31 funções que caracterizam ações das personagens e que apesar de não estarem presentes em todos os contos , apareciam sempre pela mesma ordem. Estas funções apareceriam divididas em 4 atos:

      1º Ato: contendo as funções de 1 a 7 onde é apresentado o ambiente da história e as principais personagens, preparando o cenário para a aventura subsequente

      2º Ato: a história principal começa aqui e estende-se até a função 11 quando o herói parte na busca para conquistar algo.

      3º Ato: com as funções de 12 a 19 que enfatizam a busca do herói por um método pelo qual a solução para a sua busca possa ser alcançada através da ajuda de uma agente mágico, fator externo ou aquisição de consciência de uma capacidade inata que lhe era desconhecida até então.

      4º Ato: esta última fase é frequentemente opcional tratando-se das funções de 20 a 31 onde  o herói volta para casa, eventualmente vitorioso, é saudado pelos seus feitos e passa a viver num novo mundo, seja ele interior ou exterior.

      20 anos depois, Joseph Campbell mimetizou esta narrativa através do livro “ O Herói das Mil Faces” onde lança o seu estudo comparativo da estrutura do mito por diferentes locais, culturas e épocas, chegando à conclusão que todas as narrativas míticas deveriam de uma só baseado na ideia da jornada do herói, uma aventura mitológica paradigmática dos ritos de passagem: o monomito.

      Segundo a professora, escritora e crítica literária Rita Taborda Duarte, no cinema, facilmente encontramos tanto funções e personagens com esferas de acção específicas, como uma estrutura interna, que, de uma forma literal ou metafórica, pressupõe uma progressão da acção a partir do conceito da jornada: um herói, que parte em demanda em busca de algo, vê-se confrontado com uma série de adversidades, que deve superar, para regressar ao ponto de partida, com uma mais valia, tanto para si próprio, como para a comunidade em que se vê inserido.

      Através de Campbell e das teorias psicanalíticas Jungianas, mas também referindo Propp e a estrutura da tragédia aristotélica, o roteirista hollywoodiano Christoper Vogler vem defender um paradigma para a progressão da acção na narrativa cinematográfica, a partir da noção campbelliana da jornada do herói .

      O estudo não é exaustivo mas de uma forma expomos aqui 6 formas diferentes de contar esta jornada que vem sendo repetida desde a criação do cinema como o conhecemos hoje em dia.

      Histórias de Ícaro
      São histórias de ascensão e queda, êxito vertiginoso onde à todo aquele que falta realismo e tenta voar mais alto, acaba por ser castigado. São fábulas morais onde o herói esquece das suas virtudes à medida que ascende, renunciando às suas virtudes e por isso deve ser punido como forma de restabelecimento da justiça como forma de indução à humildade. Filmes como Citizen Kane, The Great Gatsby e Scarface são alguns destes exemplos.

      Histórias de Orfeu
      São viagens de ida e volta ao inferno. Não terminam como a derrota de Ícaro mas costumam ter finais melancólicos onde o alívio da volta para casa é esmagado pelo peso da experiência vivida como Orfeu que perdeu Eurídice: vivo, mais sábio porém triste. Apocalypse Now, Taxi Driver e Schindler´s List são alguns filmes que retratam este mito.

      Histórias de Cinderela
      Uma personagem, maioritariamente feminina e de origens humildes, enfrenta os mais humilhantes obstáculos e os ultrapassa sem comprometer as suas virtudes até que alcance a maior recompensa de todas que é o amor, o sucesso ou a felicidade de alguma forma. Pretty Woman, The Social Network e The Hunger Games e a esmagadora maioria dos melodramas são alguns destes exemplos.

      Viagens iniciáticas
      As personagens destas histórias encontram-se num momento existencial e ou são jovens e tiveram uma infância problemática ou têm alguma vivência mas encontram-se desorientados e precisam de uma experiência transformadora como se isto pudesse lhes mostrar o verdadeiro lado da vida. Muitas vezes acaba em tragédia. Grande parte dos road movies inserem-se aqui como Thelma & Louise, Into the Wild e Little Miss Sunshine.

      O objeto mágico
      É onde encontramos os exemplos mais explícitos da viagem do herói de Campbell onde uma personagem está pacatamente em sua vida quando algo intrigante a tira deste torpor para iniciar uma aventura que mudará a sua vida. Ora vejamos: Indiana Jones, The Goonies e Star Wars.

      A fórmula blockbuster de Hollywood
      Incorpora elementos da viagem iniciática e das histórias de Cinderela: duas personagens encontram-se casualmente e posteriormente são forçadas a se separarem por um terceiro elemento que pode ser um crime, uma viagem ou a formação de um triângulo amoroso. Esta separação obriga a que a protagonista parta em busca da recuperação do seu amor. É aqui que se encaixa a comédia romântica. The Shop Around the Corner, Crazy, Stupi Love, When Harry Met Sally…a lista é longa.

    • Lugar de fala

      Dezembro 13th, 2022

      Frequento o abismo.

      Daqui tenho a mais bela vista para o denso vale do torpor.

      A minha angústia chega a ser tão sublime que reluz por entre as sombras do imaginário

      das palavras abafadas

      do calor do corpo distante. Daquilo que perdi e nem sei mais o que foi.

      Mas que faz falta.

      Sombra ausente que sobre mim recai.

      Assento-me sobre os escombros da alma cortada.

      Estrutura do espaço

       que escoa para onde todas as dimensões do inconsciente desaguam.

      Sou criatura e criadora do mito da minha existência.

      Causa e efeito.

      Ainda assim confesso: sei que é a ignorância da verdade que me edifica.

      Saco de ar, sustentando uma realidade invisível.

      Abandono a fantasia e rendo-me à ânsia da mais bruta das delicadezas. Pluma que sofre para reduzir a enormidade deste vazio.

      Há um outro em mim que sou eu mesma.

      Num esforço último
      agarro-me à borda da escrita
      concebida na frescura de cal do nada da penumbra.

      E ouço a voz silenciosa que não mais parte do vazio mas que ecoa adiante.

      Reflexo de uma coisa que pergunta.

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